Com o objetivo de mitigar as fraudes aduaneiras que inundam
de importações ilegais os países economicamente mais representativos da América
Latina, representantes das Câmaras de Calçados do continente discutiram a
criação de um sistema de intercâmbio de informações do comércio exterior de
calçados dos países representados. O encontro aconteceu no último dia da
Francal, 9 de julho, na Praça de Eventos da feira paulista.
Entre apresentações dos números das indústrias locais, os
representantes calçadistas discutiram a necessidade de uma padronização das
informações divulgadas. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira
das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, “nem sempre os dados
apresentados pelo país exportador coincidem com os dados apresentados pelo país
destino das mercadorias”. A necessidade foi reforçada pelos dados apresentados
pelo presidente da associação de calçadistas da Colômbia (ACICAM), Luiz Gustavo
Flórez. O representante colombiano ressaltou que o México, atrás somente da
China, é o maior exportador de calçados do país, com 10,1 milhões de pares
enviados a Colômbia no ano passado. Desses, 7 milhões tinham preço menor de US$
1. Alejandro Gómez, da câmara de calçadistas do México (CICEG) passou um dado
discrepante. Conforme registros oficiais do México, foram exportados para a
Colômbia 736 mil pares a um preço médio de US$ 11 por par em 2014.
Para Klein, as fraudes nas importações estão presentes em
todos os países com polos calçadistas relevantes e têm efeitos funestos para as
produtoras nacionais. O diretor da câmara calçadista do Chile (FEDECALL), Pedro
Bosco, acrescentou que o país sul-americano também vem sofrendo com as
importações, ainda mais porque o Chile possui uma política de abertura
comercial, obediente à Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo “sem
reciprocidade”. Segundo Bosco, o resultado dessa abertura sem reciprocidade foi
uma invasão de produtos asiáticos que afetou de forma severa a atividade em
anos recentes. Em 1991, conforme recorte realizado pela FEDECALL, eram
produzidos 35,7 milhões de pares, número que caiu a 7,7 milhões no ano passado.
Já em 1991, as importações foram equivalentes a US$ 2,2 milhões, passando para
US$ 100 milhões no ano passado. “A nossa indústria não desapareceu, nem irá. A
saída para a concorrência com os asiáticos, tanto no mercado interno como
internacional, é a aposta em nichos de qualidade e inovação”, disse o
representante chinelo.
Mesmo com uma produção insignificante de calçados, o Panamá
foi apontado como o segundo maior exportador de calçados para a Colômbia, com
19 milhões de pares vendidos em 2014, mais de 5 milhões deles com preço menor
de U$ 1. Para o Flórez, são claros os indícios de ilegalidades. “Para amainar o
problema do contrabando e das importações fraudulentas, o governo colombiano
lançou uma lei específica. É a primeira vez que a Colômbia penaliza o
contrabando, o que nos trouxe um pouco de esperança”, disse.
Na oportunidade, Gómez ressaltou os efeitos da importação de
calçados asiáticos no mercado mexicano e os esforços do governo do país para
conter o problema. Conforme o dirigente mexicano, o controle maior das
importações ilegais fizeram com que o setor calçadista mexicano crescesse 1,4%
nos primeiros quatro meses do ano, depois de três anos consecutivos de quedas.
Apesar disso, Gómez ressaltou que apenas 15% dos produtos que chegam ao País
estão sendo verificados por observadores indicados pela Câmara. “Alguns países
nos acusam de protecionistas, o que não é verdade. A CICEG vem buscando
explicar a questão, destacando que as ações governamentais são esforços para
conter a ilegalidade e não as importações de uma maneira geral”, frisou.
A padronização do tamanho dos calçados também foi levantada
na reunião. “É importante obter um mesmo padrão de tamanhos na América Latina.
No Brasil, Argentina, Chile e Uruguai temos ponto francês, no México é
centimetrado”, justificou Bosco. Para Klein, a ideia de unificação é
fundamental e deve ser discutida com mais longo prazo, encontrando pontos de
coincidência. Na oportunidade, o Chile ficou responsável pelo estudo de uma
padronização das medidas de calçados.
A Câmara da Argentina destacou a importância de condutas de
responsabilidade social e sustentabilidade e a possibilidade de criação de uma
certificação para as empresas. O representante argentino, Sérgio Panossian,
destacou que irá remeter um projeto para sugestões dos demais participantes.
Segundo o argentino, existem oportunidades comerciais importantes para empresas
que adotam processos sustentáveis. Durante o intervalo realizado para uma
coletiva de imprensa, Panossian frisou que a indústria buscar melhores
condições de competitividade não deve ser confundido com precarização do
trabalho. “Estamos falando do trabalho do nosso povo, produzir com
competitividade não pode estar ligado somente ao fator da mão de obra barata.
Quando a imprensa mundial fala sobre livre comércio deve falar disso também”,
pontou Panossian.
O encontro das Câmaras da América Latina discutiu, ainda, a
participação do grupo no Fórum Internacional do Calçados, que acontecerá em
Milão no dia 4 de setembro. O próximo encontro, ainda sem data definida, deve
acontecer no Chile até o final do ano. (Fonte: Imprensa Abicalçados)
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