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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Crônica de uma morte anunciada


Jair Wingert

A conversa é motivo de discussões nas escolas, nas empresas, no futebol, nas famílias e gira em torno do nosso agonizante Rio dos Sinos, outrora conhecido como Rio dos Ratões do Banhado. Pois não é que o nosso Sinos se encontra na UTI e respira com ajuda de aparelhos. O pulso ainda pulsa. As cidades colonizadas por imigrantes alemães forjaram sua riqueza e o nosso Vale se tornou pujante em desenvolvimento humano e econômico, porém aos poucos fomos virando as costas para o nosso Rio dos Sinos e numa tétrica romaria passamos a jogar toda ordem de detritos junto ao rio, num tratamento madrasto e tacanho. O ciclo hoje é este: pagamos a Corsan para “limpar” (até que ponto limpa mesmo?) a água que bebemos, depois fizemos as necessidades fisiológicas e jogamos direto no Sinos e novamente, a água como xixi, cocô, agentes químicos é “limpada” e pagamos por isto e assim segue o ciclo, mas até quando? Desde 1988, quando começamos nosso trabalho na imprensa como repórter, vínhamos alertando para o perigo e de forma quase que profética afirmávamos que logo ali a natureza daria o troco. Até bem pouco tempo alguns arautos da ignorância sentenciavam: “Meio Ambiente não dá voto”. Hoje vivemos o drama do racionamento de água em função da falta de chuvas e do consumo desordenado e sem fiscalização para lavoura de arroz. A fiscalização do Estado precisa chegar junto nas lavouras de arroz, pois aí está um dos pontos altos do nível do Sinos. O problema não é a falta de chuva, o que ninguém fala é que nos locais onde havia banhados que são os filtros naturais do Rio dos Sinos estão implantados loteamentos, ou seja, os banhados foram drenados e o “progresso” avançou. As chuvas que acontecem atualmente enchem o rio, porém dias depois o nível das águas já está baixo novamente, por quê? Os banhados são filtros naturais, espécies de esponjas que acumulam a água e quando o rio começa a diminuir a função dos mesmos é recolocara água acumulada para dentro do rio num ciclo perfeito da natureza, isto sem contar a fauna e a flora que circundam de forma magistral, ou circundavam os banhados. A falta de tratamento de esgotos é a principal causa de poluição do Sinos, mas voltando aos banhados, pare e pense: bairros como a Vila Rica em Campo Bom, Kipling e Presidente Vargas em Canudos; Novo Hamburgo tomaram conta do banhado e assim segue para São Leopoldo, Sapucaia e outras cidades que recebem as água dos Sinos. Sem contar que estes bairros foram aterrados com couro e outros agentes nocivos. O couro é altamente cancerígeno e contém metais pesados que vão para o Sinos e ainda poluem o lençol freático. Em 2012 teremos eleições e acredito que o tema meio ambiente e em especial o nosso Rio dos Sinos precisa ser parte da agenda de debates entre os candidatos a Prefeito e os postulantes a uma vaga nas Câmaras de Vereadores. Preste atenção se o seu candidato tem propostas e compromissos com o meio ambiente e com a defesa do nosso rio, se não tem , lamento em informar, mas ele não merece o teu voto, porque agora a defesa do Sinos é questão de vida ou morte e como afirmou o Cacique Seatle: “Quando o homem branco cortar a última árvore, matar o último pássaro, poluir o último rio ele vai descobrir que não é possível comer dinheiro. “ Rio dos Sinos: o pulso ainda pulsa, mas até quando? Não esqueça: tudo o que acontecer com a mãe natureza, logo ali vai acontecer com os filhos da mãe natureza; o homem! É preciso deixar de brincar com o Sinos e ter um projeto de saia do papel e recupere o nosso rio urgentemente.

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