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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Entidades calçadistas promovem evento sobre cenário econômico

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) uniram-se para mais uma edição do evento Análise de Cenários, ocorrido quarta-feira (8), no Hotel Locanda, em Novo Hamburgo. A palestra, conduzida pelo economista e consultor Marcos Lélis, destacou os entraves da economia nacional e também o cenário externo para os exportadores de calçados, couros e componentes para calçados.
O economista destacou que a desaceleração da economia chinesa segue impactando negativamente nos preços das commodities, o que influencia a atividade de países exportadores desse segmento, caso do Brasil. “No segundo semestre de 2015, a crise chegou aos Estados Unidos, que muito provavelmente impactado pela desaceleração da China registrou queda na produção industrial de 1,8% no início deste ano”, ressaltou. O ponto positivo é que, segundo Lélis, a China parece ter parado de cair. Depois de bater em 20% de crescimento, a atividade industrial chinesa estabilizou-se em 5%. “É um baque enorme na economia mundial, mas a boa notícia é que parece ter encontrado um ponto de equilíbrio”, apontou o consultor.

Três fases

Lélis destacou que a economia mundial teve - ou tem - três fases. Começou nos Estados Unidos, em 2009, chegou à Europa em 2012 e 2013 e depois viajou até a China. “O fato é que a economia mundial parece ter encontrado um ponto de normalização, mas o crescimento não será tão vigoroso quanto o pós-crise de 2009 e só sentiremos reflexos mais claros a partir de 2017”, destacou. A má notícia para os países emergentes e dependentes das commodities, caso do Brasil, é de que acabou o superciclo de valorização das mercadorias primárias, que durou quase 12 anos. “Nós poderíamos ter aproveitado melhor esse ciclo. Quando o mercado começou a antecipar a desaceleração da China, que passaria a consumir menos commodities, eram necessárias reformas que não foram realizadas. Em 2015, com a crise política, já era tarde demais para fazê-las”, recordou, ressaltando que o Brasil aumentou gastos de longo prazo, como se o ciclo das commodities fosse “eterno”.

Contas públicas

Para o economista, a resolução da recessão brasileira passa pela regulação das contas públicas, com destaque principal para a Previdência e a redução dos juros. Segundo ele, quase 50% total dos gastos primários do Governo são com transferências de rendas para famílias, alocação que tem o peso dos benefícios da Previdência Social como carro-chefe. “Gastos com pessoal são importantes, mas estão crescendo em consonância com o PIB. Já os gastos com Previdência crescem muito mais, especialmente por estarem atrelados ao salário mínimo, que aumentou muito mais do que o PIB nos últimos anos”, disse.
Além da reforma da Previdência, segundo o consultor, é urgente a revisão da taxa de juros brasileira, hoje em 14,25%. “Com uma taxa alta, o Governo precisa de um esforço maior para garantir o superávit e o ajuste das contas públicas. Somente em 2015, pagamos mais de R$ 500 bilhões somente de juros, quase 10% do PIB”, ressaltou.
Para Lélis, como a inflação brasileira não é de demanda – todos os indicadores demonstram isso -, não teria impacto significativo a redução de três pontos percentuais na taxa de juros. “A inflação brasileira é historicamente muito mais atrelada ao câmbio do que aos juros. Eu não entendo como, neste momento, o Governo não reduz a taxa”, comentou, lembrando que a inflação foi derrotada justamente no Plano Real, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso criou a paridade da moeda brasileira com o dólar, o que acabou prejudicando de forma importante o setor exportador.

Desemprego

Perguntando sobre a questão do emprego, o economista disse que o Brasil deve encerrar o ano com um índice alarmante de 14%. A recessão econômica, aliada especialmente à crise política nacional é determinante para a taxa. “A questão é que a nossa crise foi muito maior do que deveria ser. É importante questionar qual o papel dos nossos políticos nesse índice de 14% de desemprego. Os representantes ficaram dois anos se digladiando, não oportunizando as reformas necessárias e urgentes”, lamentou. Segundo ele, a economia não é feita por economistas, é feita por políticos. “Infelizmente, no Brasil, a questão não foi tratada com a responsabilidade devida a uma briga pelo poder”, completou.

Indicadores

Analisando a cadeia coureiro-calçadista, o economista destacou que o único setor que não perdeu posições no ranking de competitividade nos últimos cinco anos foi o de couros, que passou para a segunda coleção em nível mundial, atrás apenas da Itália. Os calçadistas, com quedas consecutivas nas exportações, perderam três posições no ranking, caindo de 8º para o 11º lugar em nível mundial. A queda do setor de componentes, por sua vez, foi ainda maior, de sete posições. O setor caiu da 8ª para a 15ª posição.
O consultor apresentou, ainda, um índice de atratividade para os setores de calçados, couros e componentes. Nele, listou os países com maior potencial para os produtos nacionais. Para os calçadistas, segundo ele, os principais mercados são França, Estados Unidos – que voltou a comprar mais calçados brasileiros a partir do final de 2015 -, China e Emirados Árabes Unidos. Para o setor de componentes, os melhores mercados estariam na China, Alemanha, México e Itália, ao passo que para os curtumes os destinos potenciais seriam China, Vietnã, Itália e Alemanha.
O evento Análise de Cenários contou com o apoio da Associação Brasileira das Indústrias de Artefatos de Couro e Artigos de Viagem (Abiacav), Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores do Couro, Calçados e Afins (Abrameq) e Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefato (IBTeC). (Fonte: Abicalçados)

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