O Brasil não deverá ficar imune à piora da economia da Argentina, independentemente da decisão dos próximos dias - com a declaração da moratória ou com o pagamento dos credores em negociação.
Diante da atual fragilidade externa, o governo da Argentina
deverá ser obrigado a fazer um superávit comercial mais expressivo, o que tende
a impactar a compra de produtos brasileiros. No primeiro semestre, as
exportações da Argentina superaram as importações em apenas US$ 3,684 bilhões,
uma queda de 28% na comparação com o mesmo período do ano passado.
"Qualquer que seja a situação acertada nos próximos dias, a Argentina vai
ter de segurar mais as importações", diz José Augusto de Castro,
presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O nó da Argentina e a necessidade de segurar as importações
se dá porque as receitas de exportação deverão ser menores. Assim como o
Brasil, a Argentina é uma grande exportadora de produtos básicos, como soja e
milho, que estão com preços em queda no cenário internacional. A única
alternativa, então, seria reduzir a compra dos produtos de outros países. A
Argentina é uma das principais compradoras de produtos manufaturados das
empresas brasileiras.
"Um superávit de US$ 7 bilhões da Argentina não é
suficiente para pagar o custo de energia", afirma Castro.
Para o mercado financeiro internacional, uma economia dispõe
de boa saúde financeira no comércio exterior quando as reservas são
equivalentes a quatro meses de importação. Como a Argentina importou US$ 73
bilhões no ano passado, ela teria de dispor de US$ 24 bilhões. Porém, se o país
tiver de pagar os credores que travam a batalha atual, as reservas financeiras
recuarão para entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões - sem levar em conta novos
pedidos de renegociação.
Recessão. A balança comercial brasileira já tem enfrentado
problemas por causa da crise Argentina. A economia do país vizinho está em
recessão e ele já vem comprando menos do Brasil. Os dados do Ministério do
Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior mostram que a participação
argentina nas vendas para o exterior corresponderam a 6,71% (US$ 7,4 bilhões)
do total no primeiro semestre, abaixo dos 8,15% (US$ 9,3 bilhões) de 2013.
Atualmente, a Argentina é o terceiro país que mais importa do Brasil. Mas está
muito próxima da Holanda, responsável por 6,25% das compras.
"O Brasil está sendo afetado pela gestão macroeconômica
da Argentina. As restrições que foram impostas para as nossas importações
prejudicaram a indústria, em especial a automobilística", diz Gustavo
Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências.
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados
(Abicalçados) estima, por exemplo, que as vendas para os argentinos deverão
somar neste ano cerca de US$ 50 milhões. Em 2013, foram exportados US$ 120
milhões. "Recentemente houve uma piora para receber os valores que
tínhamos embarcado", afirma Heitor Klein, presidente executivo da
Abicalçados.
O setor de máquinas e equipamentos também deve ter um
resultado pior nas vendas para a Argentina. Os números da Associação Brasileira
da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostram uma redução de 23% (de
US$ 882,6 milhões para US$ 682,8 milhões) nas exportações para a Argentina
entre janeiro e maio deste ano ante o mesmo período de 2013. "Se ocorre um
agravamento da situação financeira do País, existe obviamente uma menor demanda
por investimento", afirma Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior
da Abimaq.
Fonte: Abicalçados
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