As expectativas geradas pelas eleições e as constantes
oscilações no mercado causadas pelas incertezas quanto ao novo governo, somadas
à realização da Copa do Mundo no Brasil, que serviu como um “evento concorrente
do segmento” desenhou um quadro de recessão para o setor calçadista. Ao longo
de 2014, foram registradas quedas em todos os indicadores setoriais apurados.
Conforme dados mais recentes do IBGE, a produção de calçados, de janeiro a
outubro caiu 4,7%, enquanto o varejo do segmento encolheu 0,9%. “Tivemos um
primeiro semestre mais estável e um segundo semestre, com a realização da Copa,
muito ruim”, explica o presidente-executivo da Associação Brasileira das
Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Segundo ele, a queda na
demanda interna por calçados foi tão grande que até as importações registraram
queda de 3,1% no acumulado de janeiro a novembro com relação a igual período de
2013. Para o executivo, a Copa acabou alavancando negócios nos setores de
serviços, entretenimento e de linha branca em detrimento de outros.
Menos calçados aqui...
O quadro de queda no varejo interno, antes o grande
sustentáculo do setor calçadista brasileiro, trouxe um dano importante para a
atividade, que viu, além da produção, o nível de emprego despencar 8%, conforme
o IBGE. “Devemos encerrar o ano com 20 mil postos de trabalho a menos”, lamenta
Klein, para quem o modelo de crescimento sustentado no consumo acabou e deve
ser revisto pelo governo. “O próximo ano será de ajustes necessários. A nossa
expectativa é que, com os ajustes certos, possamos voltar a crescer em 2016”,
acrescenta.
E lá fora
A demanda internacional por calçados brasileiros também caiu
ao longo do ano. No acumulado, o embarque de 114,7 milhões de pares gerou US$
948 milhões, queda de 3,9% ante o ano passado. “Tivemos muitos problemas com os
embarques para a Argentina, nosso segundo principal mercado. Depois tivemos os
problemas recorrentes, do Custo Brasil, somados nesta feita às bruscas
oscilações cambiais e a instabilidades políticas e econômicas em nossos
principais mercados”, avalia.
Para o executivo, porém, a expectativa para 2015 é de
crescimento nos embarques. “A nossa expectativa mais positiva é embasada na
recuperação das principais economias, com exceção da Argentina, que para nós é
um quadro consolidado, e o dólar mais valorizado. Vamos aguardar para saber em
qual patamar ele vai estabilizar para podermos traçar um quadro mais concreto
nas exportações no próximo ano”, projeta Klein.
Poderia ter sido pior
Para o executivo, o ano poderia ter sido pior não fosse a
união do segmento em prol da causa do Design. Segundo ele, as dificuldades que
ciclicamente aparecem para o setor calçadista nacional, fizeram com que a
diferenciação do produto assumisse papel protagonista na busca de uma
recuperação da competitividade. Klein lista o sucesso da Maratona MUDE como
prova dessa sinergia. O evento, realizado pela Abicalçados em setembro, reuniu
mais de 500 pessoas entre calçadistas, designers e estudantes em Porto
Alegre/RS.
“O certo é que temos que fazer a nossa lição de casa,
buscarmos o protagonismo na criação de uma identidade de moda brasileira que
seja desejada não somente aqui, mas além-fronteiras”, aponta. E este processo
de criação da cultura do Design, que ganhou força durante o ano de 2014, deve
ser intensificado através das ações do Brazilian Footwear, programa de apoio às
exportações mantido pela Abicalçados em parceria com a Apex-Brasil que prevê
investimentos de mais de R$ 41,4 milhões no desenvolvimento para exportação,
promoção comercial e de imagem nos próximos dois anos. “Evidente que vamos
seguir na busca de condições melhores de competitividade e desenvolvimento para
o calçado brasileiro, mas é preciso encarar os problemas com proatividade,
esperando menos do poder público e mais do próprio setor em termos de melhorias
na produtividade e qualificação do nosso produto”, conclui o executivo.
Fonte: Assessoria Abicalçados
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