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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Vender somente calçados não é o bastante

Fabricantes de calçados planejam diversificar a produção ou reforçar a atuação direta no varejo como estratégia para impulsionar as vendas, em meio às incertezas do cenário macroeconômico

No acumulado de janeiro a outubro, a produção do setor de calçados apresenta queda de 4,7% frente ao mesmo intervalo de 2013. Para o ano fechado, a percepção do setor é de uma estabilidade ou uma pequena queda na produção, de acordo com Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

"Ainda há muita indefinição no cenário macroeconômico e é difícil estimar como fatores câmbio, inflação e desempenho do PIB [Produto Interno Bruto], vão pesar no comportamento dos consumidores daqui para frente", disse Klein.

Entre as companhias abertas do setor, Grendene, Alpargatas e Arezzo decidiram tomar caminhos diferentes para fazer frente ao cenário de crise.

A Alpargatas, dona das marcas Havaianas, Dupé e Mizzuno, também vai produzir roupas e outros itens de moda.

A Grendene prevê diversificar a operação no país a partir de 2015, com a entrada no segmento de móveis de plástico. E a Arezzo tem como principal meta reforçar a atuação direta no varejo.

Em entrevista ao Valor, Thiago Borges, diretor financeiro e de relações com investidores da Arezzo & Co, disse que prevê para o próximo ano a abertura de 62 lojas, ante 58 lojas previstas para este ano, um incremento de 7,7%.

O trabalho de expansão de lojas da Arezzo começou a ser feito no terceiro trimestre deste ano, com a abertura de 50 lojas.

A companhia encerrou o período com 479 unidades, aumento de 11,7% na comparação anual. A expansão tem como principal alvo a bandeira de sapatilhas Anacapri, que nos nove primeiros meses do ano apresentou crescimento de 89,9% em receita, para R$ 50,8 milhões, e passou a responder por 5,4% da receita da companhia.

Ao todo, a receita da Arezzo cresceu 9,1%, para R$ 982,3 milhões em nove meses.
As lojas próprias e franquias da Arezzo têm obtido ganhos de receita mais fortes que as vendas em redes multimarcas.

Nas franquias e lojas próprias, o crescimento em receita no ano foi de 14,1% e 7,3%, respectivamente, ante um avanço de 2,5% nas redes multimarcas.

"O desafio para 2015 é desenvolver as diferentes marcas e canais, trabalhando com foco na maior disponibilidade dos produtos nos diferentes pontos de venda", disse Borges.

A Grendene também planeja expandir as franquias da bandeira Clube Melissa de 150 este ano para 200 lojas em 2015, mas o cumprimento desta meta vai depender da evolução do mercado.

"A expectativa é ultrapassar 200 lojas, mas o importante para nós não é atingir um determinado número de lojas, e sim, achar o local e o franqueado adequados", afirmou Francisco Schmitt, diretor financeiro e de relações com investidores da Grendene.

Na visão do executivo, a situação econômica do país no próximo ano será difícil. "A economia requer muitos ajustes e ainda não se sabe quais serão efetivamente feitos", disse Schmitt.

O executivo disse que a Grendene tem buscado ajustar as linhas de produtos em termos de custos e preços para garantir crescimento em receita e lucro, mesmo com o cenário adverso.
A empresa tem apostado principalmente em coleções de curta duração (moda rápida).

"Em um ano, 95% a 97% da receita vem de produtos lançados no mesmo ano. Isso não significa que não reajustamos preços, mas lançamos novos produtos com novos preços", disse Schmitt.

A companhia também espera uma melhora em resultados vinda da parceria com a Vulcabrás para desenvolver linhas de calçados femininos com as marcas Azaleia e Dijean.

Para 2015, Schmitt também espera ver deslanchar a A2NP, negócio de móveis lançado neste ano na Europa. O negócio de móveis de plástico tem a marca "Tog" e recebeu investimento de R$ 22,1 milhões.

A meta da Grendene é trazer o negócio para o Brasil em 2015, mas Schmitt não deu mais detalhes. Para o próximo ano, a Grendene manteve a meta de crescimento da receita bruta de 8% a 12% e aumento no lucro líquido de 12% a 15%.

A Alpargatas, dona da marca Havaianas, planeja diversificar os negócios no próximo ano, com a aquisição de empresas de moda, que tenham perfil semelhante ao da Osklen, grife carioca de moda masculina e feminina de luxo. O valor a ser investido na nova aquisição será superior ao total pago pela Osklen, afirmou Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. A companhia desembolsou R$ 318,2 milhões para comprar 60% de participação acionária na Osklen, avaliando a grife em R$ 530,3 milhões.

A meta é transformar a fabricante de calçados em uma companhia de moda, segundo Utsch. Em relação à operação no varejo, a Alpargatas planeja investir mais em lojas maiores, com provadores, acompanhando a oferta maior de produtos em vestuário. O executivo não divulga, no entanto, a projeção de abertura de lojas para o próximo ano.

Outra calçadista, a Pimpolho, também ingressou recentemente no segmento de moda. A fabricante de calçados e acessórios para o segmento infantil, começou a produzir linhas de roupas para bebês neste semestre. De acordo com Ricardo Brito, diretor comercial da Pimpolho, a primeira coleção já foi vendida a redes varejistas multimarcas e chegará às lojas em janeiro de 2015.

Brito disse ver potencial para uma expansão mais acelerada no país com a diversificação da oferta de produtos. A companhia também colocou no mercado neste mês uma linha de calçados injetáveis, que complementa o portfólio de 500 itens da empresa. A Pimpolho prevê fechar 2014 com crescimento de 21% em receita, chegando a R$ 100 milhões. A companhia não divulga projeções para 2015.

O cenário de estagnação ou queda na produção deste ano é resultado, segundo a Abicalçados, de alguns fatores como a piora no nível de endividamento das famílias, a inflação alta e o aumento das importações. No ano passado a indústria de calçados no país vendeu 900 milhões de pares de sapatos e faturou R$ 26,8 bilhões.


Fonte: Abicalçados/Valor Econômico

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