Oito alunos enfileirados à margem do Rio dos Sinos, no município de Campo Bom (RS), alertam os espectadores atrás da câmera que o nível da água está abaixo do normal e aproveitam para dar dicas de como economizar água e preservar o rio, responsável pelo abastecimento de 1,5 milhão de pessoas em 32 municípios gaúchos. Em outro momento, um grupo de crianças assiste à apresentação de um aluno mais velho sobre como confeccionar um pufe a partir de um pneu velho. Na mesma linha de "passo a passo", uma aluna ensina a fazer pulseiras de macramê (bordado feito à mão utilizando combinações de nós) reaproveitando materiais.
Os vídeos, disponíveis na internet, fazem parte do projeto Eco Web, trabalho de educação ambiental desenvolvido há dez anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental 25 de julho e que desde 2010 ganhou cara nova ao introduzir o uso de tecnologias, como tablets, câmeras digitais e smartphones, nas atividades realizadas com os alunos.
A iniciativa coleciona seis prêmios, entre eles o Novas Formas de Aprender e Empreender, concedido pelo Instituto Claro, que possibilitou a criação de uma sala de aula equipada com diferentes aparatos tecnológicos para os alunos utilizarem nas aulas, e o mais recente Prêmio Educadores Inovadores, promovido pela Microsoft e realizado em novembro de 2012 na República Tcheca. O projeto Eco Web foi considerado o melhor da América Latina e o segundo melhor do mundo na categoria Inovação em Comunidade.
Um dos motivos para o projeto ter nascido é a proximidade da escola de um banhado, área úmida caracterizada pela presença de água por longos períodos ou de forma permanente. Há algumas décadas, os banhados eram considerados ambientes insalubres, com propensão para tornarem-se criadouros de mosquitos. Hoje a importância desse ecossistema é reconhecida: os banhados são áreas de preservação ambiental, protegidas por lei. Para a coordenadora do projeto, a bióloga e professora Margarida Telles Cruz, o fato de ter alunos morando próximos a essas áreas facilita o trabalho de educação ambiental e a conscientização das crianças. "Eu tenho uma sala onde as mesas são feitas de carretéis de fio de luz e os pufes de pneus que nós recolhemos das áreas de banhado e reutilizamos na escola com a ajuda dos alunos", conta.
Margarida comanda um grupo de 60 alunos, do 2° ao 9° ano do ensino fundamental, no contraturno. A dinâmica da aula é a seguinte: os alunos vêem a teoria em sala de aula e saem a campo para observar o que aprenderam e registrar suas descobertas por meio de fotos, vídeos e textos no blog do projeto. "Os alunos identificam pontos negativos ao longo do percurso, como o lixo depositado na beira dos arroios, rios ou banhados, e propõem ações para minimizar esses impactos no meio ambiente", explica a professora.
Quando é encontrada uma grande quantidade de lixo industrial em local inadequado e é possível identificar a empresa responsável, o lixo é fotografado e as imagens são enviadas para a Secretaria de Meio Ambiente, que notifica a empresa para fazer a retirada dos resíduos. As crianças acompanham a retirada, fazem o plantio de árvores quando necessário e continuam monitorando o local. Margarida ressalta que a divulgação do trabalho na internet foi fundamental para ampliar as ações do Eco Web e engajar a comunidade a colocar em prática ações sustentáveis.
O projeto conta também com um inusitado material didático. Trata-se de um rio artificial com 34 metros de sinuosidade no meio do pátio da escola. A miniatura é uma representação do Rio dos Sinos, que passa pela cidade. Em volta dele os alunos plantam capim para representar a mata ciliar, além de outras espécies de plantas encontradas na beira do rio, e ajudam a cuidar dos peixes que ali vivem.
Outro diferencial das aulas da professora Margarida é o trabalho de inclusão que ela realiza no projeto Eco Web. Dos seus 60 alunos, 11 têm algum tipo de deficiência e 24 apresentam dificuldades de aprendizagem. "Nós formamos um grupo bem heterogêneo para que todos possam se ajudar. Temos um aluno com dificuldade para caminhar, mas sempre que vamos a campo nos planejamos para levá-lo de carro, os colegas levam cadeira, ajudam ele a se locomover", relata Margarida. Ela ressalta também que alguns alunos, por conta de deficiências, ficavam sempre muito protegidos e sentiam-se frustrados por não conseguir acompanhar algumas das aulas. No Eco Web, Margarida garante: todos os alunos realizam as mesmas atividades.
Além do grupo que participa das atividades no contraturno, Margarida recebe também professores de outras disciplinas que levam suas turmas para trabalhar atividades interdisciplinares na aula de educação ambiental. Um professor de geografia que está estudando a paisagem com seus alunos, por exemplo, pode marcar um dia para sair a campo com Margarida e, com a ajuda de um GPS, ver de perto o que os livros só podem mostrar no papel. Escolas da região também podem levar seus alunos para passar um dia no projeto.
Para conhecer melhor o projeto Eco Web acesse o blog http://projetoecoweb. wordpress.com e acompanhe o dia a dia dessa turma nas redes sociais http://www.facebook. com/eco.web.7
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