Depois de uma trégua de dez meses, a Argentina voltou a
provocar dor de cabeça nos exportadores de calçados. Isso porque, no mês
passado, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados)
recebeu algumas reclamações por parte de empresas associadas quanto à adoção de
ações protecionistas na Argentina.
O presidente-executivo da entidade, Heitor Klein, explica
que não é nada nos moldes das Declarações Juramentadas Antecipadas de
Importações (DJAIS), que tanto prejudicaram a atividade no governo de Cristina
Kirchner. “A barreira que antes era declarada, agora é velada”, avalia. Segundo
ele, o problema agora está na demora para a liberação das licenças, que já
excedem os 60 dias regulamentados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Relatos dos distribuidores locais esclarecem que, informalmente, os
funcionários encarregados do registro de pedidos de importação não estão
aceitando novas solicitações e informando que para o corrente ano não serão
liberadas licenças, sob a alegação de que as importações de 2016 não poderão
exceder as importações do ano de 2015.
Prejuízo
Conforme levantamento da Abicalçados, as licenças pendentes
já ultrapassam US$ 2,2 milhões em calçados. “Além desses, temos outros US$ 3
milhões em licenças que não foram nem protocoladas. Como muitos dos produtos
são de moda, ou seja, têm um timing para chegar às vitrines, corremos sérios
riscos de que os negócios sejam perdidos. Outra grande preocupação é que essa
barreira aparece no momento das festas de final de ano”, lamenta Klein,
ressaltando que o prejuízo pode ser muito superior aos US$ 5,2 milhões
registrados até agora.
O executivo ressalta que a barreira aparece justamente num
momento de franca recuperação das
exportações de calçados brasileiros para a Argentina, sendo um sinal negativo
que pode ter reflexos fortes na atividade. “A Argentina, como o nosso segundo
principal mercado no exterior, tem papel importantíssimo na balança comercial,
na geração de postos e empregos”, comenta o dirigente.
Números
A Argentina é o segundo principal destino do calçado
brasileiro no exterior, tendo comprado o equivalente a US$ 83 milhões entre
janeiro e setembro deste ano, 51% mais do que no mesmo período do ano passado.
O receio da Abicalçados é de que, com parcas reservas internacionais,
o governo argentino passe a criar barreiras para as importações de calçados
brasileiros. “As autoridades brasileiras, o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e o Ministério das Relações Exteriores
(MRE) já foram alertadas sobre a questão e os impactos que causam na
atividade”, concluiu Klein.
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