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terça-feira, 14 de julho de 2015

Calçadistas latino-americanos buscam intercâmbio de informações para conter importações fraudulentas

Com o objetivo de mitigar as fraudes aduaneiras que inundam de importações ilegais os países economicamente mais representativos da América Latina, representantes das Câmaras de Calçados do continente discutiram a criação de um sistema de intercâmbio de informações do comércio exterior de calçados dos países representados. O encontro aconteceu no último dia da Francal, 9 de julho, na Praça de Eventos da feira paulista.
Entre apresentações dos números das indústrias locais, os representantes calçadistas discutiram a necessidade de uma padronização das informações divulgadas. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, “nem sempre os dados apresentados pelo país exportador coincidem com os dados apresentados pelo país destino das mercadorias”. A necessidade foi reforçada pelos dados apresentados pelo presidente da associação de calçadistas da Colômbia (ACICAM), Luiz Gustavo Flórez. O representante colombiano ressaltou que o México, atrás somente da China, é o maior exportador de calçados do país, com 10,1 milhões de pares enviados a Colômbia no ano passado. Desses, 7 milhões tinham preço menor de US$ 1. Alejandro Gómez, da câmara de calçadistas do México (CICEG) passou um dado discrepante. Conforme registros oficiais do México, foram exportados para a Colômbia 736 mil pares a um preço médio de US$ 11 por par em 2014.
Para Klein, as fraudes nas importações estão presentes em todos os países com polos calçadistas relevantes e têm efeitos funestos para as produtoras nacionais. O diretor da câmara calçadista do Chile (FEDECALL), Pedro Bosco, acrescentou que o país sul-americano também vem sofrendo com as importações, ainda mais porque o Chile possui uma política de abertura comercial, obediente à Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo “sem reciprocidade”. Segundo Bosco, o resultado dessa abertura sem reciprocidade foi uma invasão de produtos asiáticos que afetou de forma severa a atividade em anos recentes. Em 1991, conforme recorte realizado pela FEDECALL, eram produzidos 35,7 milhões de pares, número que caiu a 7,7 milhões no ano passado. Já em 1991, as importações foram equivalentes a US$ 2,2 milhões, passando para US$ 100 milhões no ano passado. “A nossa indústria não desapareceu, nem irá. A saída para a concorrência com os asiáticos, tanto no mercado interno como internacional, é a aposta em nichos de qualidade e inovação”, disse o representante chinelo.
Mesmo com uma produção insignificante de calçados, o Panamá foi apontado como o segundo maior exportador de calçados para a Colômbia, com 19 milhões de pares vendidos em 2014, mais de 5 milhões deles com preço menor de U$ 1. Para o Flórez, são claros os indícios de ilegalidades. “Para amainar o problema do contrabando e das importações fraudulentas, o governo colombiano lançou uma lei específica. É a primeira vez que a Colômbia penaliza o contrabando, o que nos trouxe um pouco de esperança”, disse.
Na oportunidade, Gómez ressaltou os efeitos da importação de calçados asiáticos no mercado mexicano e os esforços do governo do país para conter o problema. Conforme o dirigente mexicano, o controle maior das importações ilegais fizeram com que o setor calçadista mexicano crescesse 1,4% nos primeiros quatro meses do ano, depois de três anos consecutivos de quedas. Apesar disso, Gómez ressaltou que apenas 15% dos produtos que chegam ao País estão sendo verificados por observadores indicados pela Câmara. “Alguns países nos acusam de protecionistas, o que não é verdade. A CICEG vem buscando explicar a questão, destacando que as ações governamentais são esforços para conter a ilegalidade e não as importações de uma maneira geral”, frisou.
A padronização do tamanho dos calçados também foi levantada na reunião. “É importante obter um mesmo padrão de tamanhos na América Latina. No Brasil, Argentina, Chile e Uruguai temos ponto francês, no México é centimetrado”, justificou Bosco. Para Klein, a ideia de unificação é fundamental e deve ser discutida com mais longo prazo, encontrando pontos de coincidência. Na oportunidade, o Chile ficou responsável pelo estudo de uma padronização das medidas de calçados.
A Câmara da Argentina destacou a importância de condutas de responsabilidade social e sustentabilidade e a possibilidade de criação de uma certificação para as empresas. O representante argentino, Sérgio Panossian, destacou que irá remeter um projeto para sugestões dos demais participantes. Segundo o argentino, existem oportunidades comerciais importantes para empresas que adotam processos sustentáveis. Durante o intervalo realizado para uma coletiva de imprensa, Panossian frisou que a indústria buscar melhores condições de competitividade não deve ser confundido com precarização do trabalho. “Estamos falando do trabalho do nosso povo, produzir com competitividade não pode estar ligado somente ao fator da mão de obra barata. Quando a imprensa mundial fala sobre livre comércio deve falar disso também”, pontou Panossian.

O encontro das Câmaras da América Latina discutiu, ainda, a participação do grupo no Fórum Internacional do Calçados, que acontecerá em Milão no dia 4 de setembro. O próximo encontro, ainda sem data definida, deve acontecer no Chile até o final do ano. (Fonte: Imprensa Abicalçados)

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